Резюме: | A passagem do Union Berlim por Braga foi um acontecimento para lá do jogo. O atual líder da Bundesliga, só por aí um indelével chamariz, trouxe ao Minho a sua fervorosa legião de seguidores, mais de 2500 adeptos alemães cobriram com barulho e cor a sua bancada, incrível e avermelhado efeito luminoso a abrir a 2.ª parte, entoaram os seus aguerridos cânticos, que já haviam sido ouvidos na concentração dos elementos da ‘Eisern Union’ - União do Ferro - nos pontos centrais da cidade. Até se encontra a inspiração punk de uma recriação de Nina Hagen.Refundado em 1966, o Union só recentemente atingiu a elite do futebol alemão, sendo o único representante da Oberliga, o campeonato da antiga RDA. É um clube que proclama a sua identidade para lá do jogo, assenta em bases operárias, ativistas, abraçando causas em todos os contextos. Simbolizou a resistência contra o regime em Berlim oriental, atiçando bandeiras e exortando durante a década de 80 contra a cortina de ferro e o complexo muro de todas as divisões. Reza a lenda, nessa era, que os adeptos cantavam com vigor a cada livre que favorecia a equipa ‘o muro vai cair’. Tantos anos volvidos, muitas dificuldades percorridas, vieram a Braga depois de quebrarem outro muro e soprarem o desejo de sucesso e reconhecimento futebolístico, façanhas recentes do técnico suíço Urs Fischer, que promoveu a equipa à Bundesliga e a colocou rapidamente em lugares cimeiros com direito a passaporte europeu.O Union voltou a viajar pela Europa, coisa que não fazia desde 2001, quando disputou eliminatórias da Taça UEFA na Finlândia com o Haka, e na Bulgária, com o Litex Lovech, após ter sido surpreendente finalista da Taça da Alemanha, perdendo então a decisão para o Schalke. Razão também para o entusiasmo testemunhado em Braga e, concretamente na Pedreira.O clube berlinense parece querer prolongar este estado de graça, a julgar pelo auspicioso arranque na Liga Alemã, granjeando simpatia geral pelos seus valores e pela oposição a modelos de gestão capitalistas como o Leipzig, situando-se sempre contra o futebol moderno, não se moldando à lógica comercial. No Union os sócios votam todas as decisões da Direção e, recentemente, foi aprovada a construção de uma zona residencial para refugiados ucranianos. A ligação entre os adeptos e o clube é tão estreita que foi uma doação de sangue que permitiu salvar o emblema da bancarrota em anos mais difíceis. A recompensa chegou quando os adeptos foram convidados a assistir a todos os jogos do Mundial de 2014, que coroou a Alemanha como campeã do mundo, no seu estádio, e com recurso aos próprios sofás de casa. E assim aconteceu com uma mobilização absolutamente estrondosa. As imagens desse momento são postais para a eternidade.Os adeptos sentem cada jogo do Union como um momento especial, singular e no qual não deve faltar paixão e conforto. No parque da Pedreira moravam alguns carros alemães, representativos, certamente, da aventura de viajar a Portugal para ver a equipa jogar e até uma caravana totalmente decorada com imagens do estádio e marcas identitárias do clube. Até parecia uma banca de merchandising estacionada. De Braga saíram com uma derrota mas a festa feita nas bancadas ficará bem guardada por todos os presentes.Veja as fotos na galeria em cima (ASF/Helena Valente) |